31.12.09

Receita de Ano Novo



Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um
apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras
parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade

Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997

25.12.09

No dia de Natal a neve apareceu







A formiga e a neve

Uma formiga prendeu o pé na neve.
“Ó neve, tu és tão forte que o meu pé prendes!”
Responde a neve: “Tão forte sou eu que o sol me derrete.”
“Ó Sol, tu és tão forte que derretes a neve que o meu pé prende!”
Responde o Sol: “Tão forte sou eu que a parede me impede.”
“Ó parede, tu és tão forte que impedes o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde a parede: “Tão forte sou eu que o rato me fura.”
“Ó rato, tu és tão forte que furas a parede que impede o Sol, que derrete a neve, que o meu pé prende!”
Responde o rato: “Tão forte sou eu que o gato me come.”
“Ó gato, tu és tão forte que comes o rato que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde o gato: “Tão forte sou eu que o cão me morde.”
“Ó cão, tu és tão forte que mordes o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde o cão: “Tão forte sou eu que o pau me bate.”
“Ó pau, tu és tão forte que bates no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde o pau: “Tão forte sou eu que o lume me queima.”
“Ó lume, tu és tão forte que queimas o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde o lume: “Tão forte sou eu que a água me apaga.”
“Ó água, tu és tão forte que apagas o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde a água: “Tão forte sou eu que o boi me bebe.”
“Ó boi, tu és tão forte que bebes a água, que apaga o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde o boi: “Tão forte sou eu que o carniceiro me mata
Ó carniceiro, tu és tão forte que matas o boi, que bebe a água, que apaga o lume, que queima o pau, que bate no cão, que morde o gato, que come o rato, que fura a parede, que impede o Sol, que derrete a neve que o meu pé prende!”
Responde o carniceiro: “Tão forte sou eu que a morte me leva.”


Do livro Contos Populares Portugueses de Adolfo Coelho, 1879.

24.12.09

Feliz Natal



Foi tudo tão pontual
Que fiquei maravilhado
Caiu neve no telhado
E juntou-se o mesmo gado
No curral.
Nem as palhas da pobreza
Faltaram na manjedoira!
Palhas babadas da toira
Que ruminava a grandeza
Do milagre presentido.
Os bichos e a natureza
No palco já conhecido...
Mas, afinal, o cenário
Não bastou.
Fiado no calendário,
O homem nem perguntou
Se Deus era necessário ...
E Deus nem representou.


Miguel Torga

3.12.09

Pista de Ski da Relva da Reboleira-Câmara rescinde contrato com a Turistrela.

"Na reunião do Executivo da Câmara Municipal de Manteigas, realizada na passada quarta-feira, foi deliberado a rescisão do Contrato de Concessão celebrado com o Consórcio Turismo da Serra da Estrela, TURISTRELA, S.A. e CERTAR, Sociedade de Construções, S. A. para Concepção, Construção e Exploração da Pista de Esqui Sintética da Relva da Reboleira, em Sameiro, Manteigas."
Jornal, Nova Guarda
Edição de 2 de Dezembro de 2009

9.11.09

Coincidências da nossa História, ou talvez não

No seguimento da Breve História de Sameiro aqui contada pela Bé, tenho tentado, de algum tempo a esta parte, seguir a pista desse tal Zamarius cujo nome próprio terá dado origem ao nome da nossa terra, tendo derivado de Zamarius para Samarius e mais tarde para Sameiro. As pistas históricas efectivamente documentadas não são muitas, no entanto encontrei alguns factos, que muito embora possam ser simplesmente coincidências, não deixam de ser coincidências curiosas, e que gostava de partilhar convosco.
A pista mais próxima que encontrei do nosso Zamarius, foi de um senhor que está sepultado no Mosteiro de Celanova. Celanova é um Municipio de Espanha, na Província de Ourense, comunidade autónoma da Galiza. (existiam algumas alcunhas em Sameiro de a "galega" e o "galego").
Este senhor sepultado no Mosterio de Celanova não tem qualquer data na sua campa pelo que não o podemos situar ou confrontar com a história de Sameiro.
Facto curioso, é que em Celanova existem 18 paróquias uma das quais de nome Milmanda, cuja padroeira...pasme-se, é nem mais nem menos que a nossa Santa Eufémia, cuja festa se realiza em 16 de Setembro.
Dados curiosos que nos podem relacionar de alguma forma com aquela localidade galega, com alguém que pode ter andado pelas nossas terras, trazido a sua santa de culto e ter voltado para morrer em paz na sua terra natal…

5.11.09

A Lenda do Povo Cimeiro


Se o vácuo documental sobre o aparecimento e origens dos povoados do concelho de Manteigas é uma realidade, as lendas e toda a matéria mítica sobre o mesmo também o são.
Augusto Barjona de Freitas, em "A Região de Manteigas (Solo, clima, população e agricultura), conta-nos sobre o aparecimento de Manteigas que "O povo mais antigo das proximidades desta região era o povo Cimeiro, hoje freguesia de Sameiro, do Concelho de Manteigas. Numa ocasião em que estava à porta de casa uma mulher daquele, tendo consigo uma filhinha, passou um touro que lhe arrebatou a criança e fugiu. A mulher perseguiu o animal e só onde está edificada a vila é que pôde reaver a criança,...Em perseguição do touro vieram também outras pessoas, e reconhecendo que o sítio era azado para viver, construíram algumas cabanas onde habitaram..." Fica por aqui a referência a Sameiro que nos deixa a considerar a passagem etimológica popular de Cimeiro para Sameiro. Barjona de Freitas justifica-o "pela circunstância do agregado ser o último e de maior altitude antes de Manteigas, no vale do Zêzere, de jusante para montante."
Pelas gentes de Sameiro divulgou-se desde sempre a Lenda do Povo Cimeiro. Diz esta que na época dos romanos, estes, ao chegarem à montante de Sameiro, em direcção a Manteigas, e ao chegarem a um local de difícil acesso, denominado Senhor da Fraga, não conseguiram passar e, então, pensaram que Sameiro seria a última localidade nesta direcção e, por isso, lhe chamaram Povo Cimeiro.

2.11.09

Breve História

Sameiro é uma das quatro freguesias do concelho de Manteigas, situada na margem esquerda do rio Zêzere.
O povoamento do Sameiro data de tempos anteriores à formação da nacionalidade, o que se pode verificar pelo próprio topónimo. Sameiro é um nome próprio utilizado ainda antes do século XII, mas como Zamarius. Presumivelmente terá sido um tal de Zamarius, oriundo da actual Galiza, o primeiro povoador desta freguesia. Isto terá acontecido depois de, em 1055, o rei de Leão, Fernando I, o Magno, ter libertado a zona de Seia e de Gouveia da submissão muçulmana.
No século XII, D. Mumio Rodrigues, possuidor da aldeia e de algumas terras em Tavares, doou-a à Ordem do Hospital. Sameiro foi provavelmente couto desta Ordem, território por isso privilegiado e anexo á Comenda de Malta da Covilhã. A actual freguesia do concelho de Manteigas foi, ao mesmo tempo, um dos bens mais importantes da Ordem do Hospital e um daqueles que, por mais tempo, se manteve na sua posse.
Até ao ano de 1835 Sameiro fez parte integrante do concelho da Covilhã. No período em que era freguesia de S.João Baptista do Hospital de Jerusalém de Malta da Comenda daquela vila da Covilhã, em alguns documentos, a freguesia surge como anexa a Verdelhos.
Em 1835 e devido à reorganização administrativa de D.Maria, Sameiro passa a integrar o concelho de Manteigas.
No século XIX, Sameiro viveu a realidade da emigração, especialmente para o Brasil, o que no século XX se fez novamente sentir, mas o destino desta vez Europa, nomeadamente a França.
As personagens históricas da região que mais se evidenciaram foram o Morgado de Sameiro, o Tenente Coronel José Biscaia Rabaça e o Padre Zacarias Lucas Coelho.